quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Balada de um homem velho.


Sou um andarilho, cheguei aqui em cima só para ver o que acontece lá em baixo. As pretensões ficaram para trás, não uso óculos de grau, mas posso dizer que meus olhos estão gastos de tanto observar, não me arrependo por isso.
Vi a bela magnólia flosrecer, ainda não sei o que isso significa. Chorei, choro por sua beleza.
Não me tornei um poeta,minhas músicas não tocam no rádio, sou menos fatalista do que antes, permaneço um fazendeiro.
As palavras me faltam, contudo, sou consumido pelo fulgor e significado de cada uma delas todas as manhãs. O verso muda o resto, há enganos na prosa. Sou um dramaturgo, ou um mentiroso.
De alguma forma, rapaz, posso lhe dizer que atingistes a liberdade antes de conhecer a técnica! Isso é possível?
Pensei que depois daquele tempo poderia dizer que não me sinto cansado, culpado, ou triste, mas a minha jovem ilusão passou a perna nas conclusões antigas.
Vejo Allen Ginsberg da janela, ele sorri. Ele era um bom andarilho, um semi-deus... esses caras insistem em apenas passar pela janela e não param nem para um cigarro.
Aragon esteve aqui, breton e tantos outros.
Abençoados sejam aqueles que ainda confiam em seus sonhos.
Recebo a benção na hora de dormir. Desisti do café e de sua antiga filosofia: "Sleep is for dreamers."
Conheço pelo menos 136 cantores de protesto e nenhum de lirismo puro.
Será que o mundo tem sido valorizado ou prendemos o valor em uma só espécie?
Ser-humano está além de andar pelo quarto e perguntar o que acontece por aqui.
Não se esforce tanto, você não pode entender o que acontece fora de você.
Ou... você pode?
Essa geração diz que seu mal é a depressão.
Você diz é impossível, eu trabalhei para que as coisas melhorassem.
Essas antigas visões ainda não te deixam em paz.
Podemos começar a acreditar naquilo que ainda não foi feito;
Não é, mister?
Boa noite!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Abstraia!


''Não sinto a necessidade de transformar tudo
numa obra de arte, mas sim de narrar o que é diferente." Camus


Fim de tarde. Saio com o carro pelas estradas, como uma velha beatnik, com duas pessoas já inclassificáveis em minha vida. Antes disso, o tédio engolia-me, dilacerava cada parte de minha bela juventude. Isso acontecia porque olhava os campos da janela, sentia a luz do sol no meu corpo, ainda sim, distantes. Pensava -estar presente no mundo vai muito além de olhar pelo vidro as coisas acontecerem.
Como disse, sai de carro. Começei a sentir a brisa em meu rosto, batia suavemente em minha pele, como se dessa forma contasse as estórias de outros jovens, em lugares longínquos encontrados, mas com a mesma ânsia pela vida.

Percebo, neste momento, que a graça não vem mais do saber, mas sim do presenciar.A pureza encontra-se no ser na medida em que se esta. Eu estou aqui e sou tomada por um ataque empírico. Nada no meu corpo responde, além dele mesmo, por inteiro. Não saio de mim, pois aqui encontro o mundo pleno.

Dancei! Dançar é ser brisa.
Notei! Noto que quando me diziam -Abstraia! o significado era o mesmo dos quadros abstratos. Não a fuga da realidade, mas a visão dela com os olhos de todos os sentidos, com a mistura da matéria que sou feita, que não me traz nada de concreto, mas muito do que existe. Existir não é prático, não é real.
Estamos cercados de beleza, a beleza não compartilha com a realidade prática.

Crescer, contemplar e viver, nada me soa mais belo e verdadeiro do que isto.