quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Abstraia!


''Não sinto a necessidade de transformar tudo
numa obra de arte, mas sim de narrar o que é diferente." Camus


Fim de tarde. Saio com o carro pelas estradas, como uma velha beatnik, com duas pessoas já inclassificáveis em minha vida. Antes disso, o tédio engolia-me, dilacerava cada parte de minha bela juventude. Isso acontecia porque olhava os campos da janela, sentia a luz do sol no meu corpo, ainda sim, distantes. Pensava -estar presente no mundo vai muito além de olhar pelo vidro as coisas acontecerem.
Como disse, sai de carro. Começei a sentir a brisa em meu rosto, batia suavemente em minha pele, como se dessa forma contasse as estórias de outros jovens, em lugares longínquos encontrados, mas com a mesma ânsia pela vida.

Percebo, neste momento, que a graça não vem mais do saber, mas sim do presenciar.A pureza encontra-se no ser na medida em que se esta. Eu estou aqui e sou tomada por um ataque empírico. Nada no meu corpo responde, além dele mesmo, por inteiro. Não saio de mim, pois aqui encontro o mundo pleno.

Dancei! Dançar é ser brisa.
Notei! Noto que quando me diziam -Abstraia! o significado era o mesmo dos quadros abstratos. Não a fuga da realidade, mas a visão dela com os olhos de todos os sentidos, com a mistura da matéria que sou feita, que não me traz nada de concreto, mas muito do que existe. Existir não é prático, não é real.
Estamos cercados de beleza, a beleza não compartilha com a realidade prática.

Crescer, contemplar e viver, nada me soa mais belo e verdadeiro do que isto.

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